quinta-feira, 26 de julho de 2012

DEUS E A MEGA SENA

imagem google

A chance de uma pessoa acertar as seis dezenas da mega-sena num jogo simples é uma em 50 milhões. Considerando-se que somos já 200 milhões de pessoas no Brasil e nem todos jogam, as chances aumentam consideravelmente. Coisa de 1 para 40 milhões mais ou menos quando ela está acumulada. Muita gente nem se dá conta disso e outras pessoas dão, pois leram atrás do cartão a explicação matematicamente certinha. Mas um e outro mesmo assim costumam apelar para Deus. 

Outro dia eu estava numa fila da loteria (adivinhem para que?) e comecei a prestar a atenção nos papos de fila. O valor acumulado era de mais de 30 milhões de reais e a previsão de que o próximo sorteio ia bater nos 40. Coisa para atiçar os devaneios e intensificar a fé. Até mesmo de criar uma fé súbita
.
- Se Deus me ajudar a ganhar eu prometo ajudar toda a minha família e os meus amigos, disse uma senhora.

- Ah, minha filha, se Deus me der uma forcinha eu repagino a minha matéria plástica no Pitanguy e vou conhecer o mundo todo, disse outra.

“Se Ele ajudar somente a um ou dois eu protesto.” Pensei baixinho e não disse nada para não cometer heresia aos olhos de quem se imagina na fila de Deus sem contrapartida. Ia dizer que Ele é bairrista, discriminador e desnaturado. Onde já se viu com tantos filhos dar preferência a um ou outro, ainda mais em jogo de azar? Voltei pra casa pensando em alguns preceitos bíblicos: “faça a tua parte e eu te ajudarei”. A minha parte não poderia ser apenas um joguinho de mega sena. Senão onde ficaria aquele outro ensinamento “ganharás o teu pão com o suor de teu rosto”? Apesar de todo o calor que estava fazendo naquela fila, mesmo assim seria muita injustiça com quem rala muitas horas por dia atrás do sustento (por muito menos do que uma bolada daquelas). 

Transferir o fardo pesado que temos que carregar em vida é uma constante em muitos de nós. Até me lembrei do refrão de uma música sacra que diz assim: “segura na mão de Deus e vai.” Tem gente entregando na mão de Deus e ficando sentado esperando ele carregar sozinho.





AMIGOS, SEMANA QUE VEM EU VOLTO E AGRADEÇO AS VISITAS. PAZ E BEM



terça-feira, 17 de julho de 2012

LANÇAMENTOS

A TODOS OS AMIGOS
O meu agradecimento e um abraço






Rua Guarda Mor Custódio, 156, Casa do Bras - Itabira-MG
(Dentro da programação do 38. Festival de Inverno)




domingo, 15 de julho de 2012

LER NÃO CAUSA L.E.R.* - DIA DO HOMEM


A imprensa brasileira tem noticiado que algumas empresas têm investido em ações de marketing alusivas ao Dia do Homem, que é comemorado no país em 15 de julho. A data – internacionalmente celebrada em 19 de novembro – foi estabelecida por Mikhail Gorbachev, ex-presidente Russo, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e de grupos de defesa dos direitos masculinos da América do Norte, Europa, África e Ásia. A proposta inicial era promover a igualdade entre os gêneros e incentivar a população masculina a cuidar da saúde de forma preventiva.

Mas, posso discordar dessas sugestões de presentes? Creio que seria melhor presentear com um livro. Sim, um singelo livro! Exatamente porque os homens brasileiros precisam ler mais – é o que mostra a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, conduzida pelo Instituto Pró-Livro. Os dados revelam que apenas 43% dos leitores brasileiros são homens. As mulheres – 53% das leitoras do país – têm um papel fundamental para incentivá-los a tornar a leitura um hábito. Professoras e mães, em especial, pois são responsáveis pela indicação e incentivo à leitura: 45% e 43%, respectivamente.

Em um artigo muito interessante, o professor e escritor Mario Sérgio Cortella nos lembra da cartilha Caminho suave, de Branca Alves de Lima. Ele conta que no capítulo sobre a família, a ilustração mostrava um pai sentado em uma poltrona, lendo o jornal. Atrás dele, em pé, a mãe vestida com um avental, segurava uma bandeja com um café. A imagem era composta, ainda, de uma menina, brincando com uma boneca e um menino, com um carrinho. Não acredito que tenha sido proposital, mas a imagem passava a clara mensagem que os homens leem e as mulheres servem. Uma indução inocente, mas desagradável.
No mundo contemporâneo, por que os homens brasileiros leem menos? Antes que alguém evoque a maior sensibilidade feminina para as artes, o hipotético “tempo de sobra” ou argumentos similarmente frágeis, recorro novamente às pesquisas. Quando questionados em estudos sobre o que estão fazendo nos momentos de lazer, homens e meninos revelam: dedicam mais tempo à televisão – especialmente programas de esportes –, acessam a internet e convidam os amigos para jogar videogame.

De toda forma, a questão da leitura no Brasil é extremamente delicada. A pesquisa mostrou que a parcela de leitores caiu de 55%, em 2007, para 50% em 2011. O número de brasileiros considerados leitores – que leram uma obra nos três meses que antecederam a pesquisa – caiu de 95,6 milhões, em 2007, para 88,2 milhões em 2011. Os dados mostram que precisamos investir em uma nova cultura capaz de formar uma nova geração de homens e mulheres; uma nova geração de leitores.

Lourdes Magalhães é presidente da Primavera Editorial

L.E.R. – Lesão por Esforço Repetitivo

terça-feira, 10 de julho de 2012

TERAPIA III


“No meio do caminho tinha uma pedra.”*  o poeta repete isso à exaustão. Para mim essa insistência era com a existência e não com um simples caminhar. Diferença entre existir e viver. A aparência de ingenuidade do poema revela profundezas do sentimento de mundo num outro verso sintomático: “nunca esquecerei desse acontecimento no meio de minhas retinas tão fatigadas.”

Tinha uma pedra no meio do caminho da civilização. Um rompimento com o que poderia ter dado certo. Eu acho que foi esta pedra o que em muita gente matou ou feriu a afetividade para com o outro. Alguns até consigo mesmos. Em algum momento ou ao longo da história a afetividade foi se distanciando ou reduzindo-se a pequenos grupos e deixando de ser universal. Ou esta interrupção afetiva foi fruto amargoso do próprio processo civilizatório? “Não sei, só sei que foi assim”, como diria um personagem do Suassuna**.

Lembro-me do tempo em que eu bebia. Bebia compulsivamente. Fazia tudo o que era obrigação mas para agüentar o peso da vida e a inquietação fervilhante eu tinha que aplacar a minha loucura. Minha bengala para prosseguir leve era a bebida. Chutando umas pedras com um pé e dando um teco em outras com a ponta da bengala. Onde começou a compulsão? Também não sei, só sei que nisso perdi muita oportunidade de exercer minha a afetividade. Já não bastava a vida de competição para tomá-la de mim? Já não bastava a correria para uma sobrevivência digna, para uma carreira de sucesso, para a construção de um lar? A gente tem que sair tirando muito obstáculo do caminho. Comigo foi assim durante muitos anos. Em estado alterado eu achava que me soltava mais, sentia-me mais sensível. Tanto para o afeto como para criar desafetos, eis um problema. O tal obstáculo muitas vezes eram pessoas.

E com os outros? Cada um não tem sua forma de buscar a justificativa de sua existência através do slogan universal que atende pelo substantivo imponente “felicidade”? E cada um não trava uma luta interior de alguma forma? Droga! Drogar-se é o mais comum. Eu vou generalizar o que considero uma droga: enfurnar-se no trabalho, fugir dele, tomar medicamentos, beber, fumar, dopar-se de cosméticos, roupas e acessórios em demasia, comprar coisas compulsivamente, usar drogas consideradas ilícitas, comer demasiadamente para aplacar uma ansiedade que não se explica. Poucas, pouquíssimas pessoas conseguem levar uma vida de cabo a rabo isentas de uma drogada. Há espíritos mais e espíritos menos inquietos com  o peso de sua existência. O que cada um faz para carregar a sua mala é que nos torna mais ou menos complexos, tanto para dentro de nós mesmos ou para as pessoas em nossa volta ou para o mundo. E essa droga para mim é a substituta da afetividade coletiva que se perdeu no meio do processo civilizatório, no meio da ilha que se formou em torno de cada um ou de cada grupinho. A droga como camuflagem, a droga como alteridade, a droga como fuga.

A indústria de medicamentos negará minha afirmação. A de bebidas negará, a indústria de tabaco negará. A indústria da beleza negará. A indústria da dieta negará. O traficante me condenará à execução, mas a afetividade coletiva é o anti drogas mais eficaz que pode existir. A vida quando partilhada é mais fácil ser suportada, menos provocadora de doenças inexplicáveis mesmo que tratáveis a custo alto e sucesso incerto. Estar de bem consigo mesmo requer que tudo a sua volta esteja bem, ou pelo menos não haja muito obstáculo. E os obstáculos ao bem estar são oriundos de pouco afeto humano. Não é preciso sair por ai como aquele antigo beijoqueiro, abraçando e beijando todos que cruzarem o nosso caminho (se bem que ele tinha alvos específicos a quem dedicar seu afeto, estava mais para caçador de fama do que disseminador de afeto. Porém seu gesto era uma bandeira levantada em favor de aproximação humana carinhosa). A tolerância, a generosidade, a educação nos modos, o respeito ao diferente, a aceitação, a tolerância, a não indiferença, a não discriminação, a diminuição do egoísmo, já são atos de afeto universal. Em qualquer lugar do planeta que se for esses gestos são edificantes. Um edifício humano onde a taxa condominial para a conservação seja a distribuição eqüitativa de afeto. Estamos infestados de amor. Ligue e tv, novela, filme, programa de auditório, vá ao cinema, leia poesia, romance, assista a uma peça teatral, ouça uma música e preste atenção na letra. Vá a um concerto ao ar livre, a um evento de multidões. Verá que a catarse coletiva é expressa de forma a buscar reconhecimento e afeto. Pode não ser dito, mas se vê nos olhos, se fala, se buscam movimentos uníssonos, de igualdade ainda que momentânea. Isso é desrepresamento de afeto que não é estendido para os demais dias da vida de cada indivíduo. O ser humano no mais fundo de sua essência está em busca de amor.


 
* No Meio do Caminho Tinha Uma Pedra - Drummond
* *O Auto da Compadecida – Ariano Suassuna





segunda-feira, 2 de julho de 2012

CARDÁPIO DE BAR POLITICAMENTE CORRETO


Agora que a onda do politicamente correto restringiu bastante o universo das piadas, o jeito é usar o velho jogo de cintura e fazer o que? Piada com o politicamente correto, né não? Aí eu me lembrei daquela da padaria:

Uma senhora entra numa confeitaria e pede ao balconista uma torta "nega maluca". O balconista diz à cliente que usar o nome "nega maluca", hoje em dia, pode dar cadeia, em face da lei Eusébio de Queiroz; artigo quinto da constituição; código penal; código civil; código do consumidor; código comercial; código de ética; moral e bons costumes, além da lei 'Maria da Penha’....

- Então, meu filho, como peço essa torta?

E o atendente responde:
- Torta afro-descendente com distúrbio mental.

Depois dessa e a pedidos, estou desenvolvendo um menu para o bar do meu amigo Beiçola, (que também já está reivindicando mudança de seu apelido para “lábios carnudos em demasia.”). Está ficando mais ou menos assim a sua “carta de degustação paga” (antigo cardápio de tira gostos). E aceitam-se sugestões:

Galináceo cirurgicamente dissecado = Frango a passarinho

Suíno com a pele encrespada pelo calor = Leitão a pururuca

Peixe traiçoeiro do qual foi retirada a coluna dorsal. =Traíra sem espinha

Cortes cirúrgicos fritos do tecido hepático bovino em benefício do ser humano carente de ferro e outras substâncias protéicas, acompanhados de bulbo, tubérculo ou leguminosa (com queiram) frita em rodelas = Fígado de boi acebolado

Adiposidade suína em pedaços, reduzida em incisões e alterada em óleo vegetal de alta temperatura. (deve ser consumida com moderação a fim de não haver transferência de lipídios saturados animal/homem) = Torresmo

Carne bovina salgada, bronzeada e serenada com o fim de conservação, manutenção de suas propriedades protéicas, bem como a obtenção de sabor especial (acompanhada de tubérculo comestível) = Carne de sol com mandioca.

Prezado consumidor, cliente e cidadão pleno de direitos: as explicações são longas, mas o prato é fundo a fim de compensações por eventuais insultos à sua cidadania cansada. Aos vegetarianos, veganos e macrobióticos as nossas sinceras desculpas (por enquanto).

(A Gerência)


PS: CONVIDO A TODOS PARA CONHECEREM O MEU MAIS NOVO BLOG: SOMOS TODOS PERSONAGENS.
Obrigado. Paz e bem.






 
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