segunda-feira, 28 de maio de 2012

ELEGENDO CULPADOS


Esta crônica é para as pessoas que ainda conservam algum tipo de idealismo.

Gilberto Dantas* fez uma ótima avaliação do estado de coisas no presente, de uma forma que é inevitável não termos angústias e inquietações com o comportamento humano numa civilização que, se fosse pra valer mesmo, a gente nunca seria saudosista. Então ele resolveu inverter a lógica e já pensar naquilo que sempre desejou, chamando isso de saudades do futuro. É como se você dormisse, tivesse um sonho maravilhoso com coisas muito boas que iam lhe acontecer ainda e, de repente acordasse. Nervoso,  ficaria então pedindo para voltar para aquele lugar distante e ainda não visitado, ou seja, o longínquo “futuro”.

 Já o Adhemar**, outro grande cronista e poeta  fez um artigo para falar de projetos de vida, uma provocação aos amigos numa mesa de discussão acerca das perspectivas de consciência , de desejos e de respostas para o estado de coisas nada agradáveis que aí estão e de nossas ações diante delas. Por exemplo, ele cita o fato de usarmos o álcool combustível, muito mais interessados no preço que é menor do que o da gasolina, do que com o efeito estufa que causa o consumo de petróleo e nem aí para a devastação assombrosa que a produção de álcool da cana  provoca na natureza. Tudo é uma questão de facilitação da vida da gente e dane-se o resto. Ou seja vivemos em busca de recompensas. Se não materiais (na maioria esmagadora das vezes) pelo menos de reconhecimento através do grupo social em que estamos inseridos irremediavelmente. No fundo, no fundo, é isso mesmo.

Então eu venho aqui sugerir a ambos que fundemos uma agremiação. Não, não demos o nome de partido, por favor, pois além de não conseguirmos adeptos muito bem intencionados (e a agremiação não vai ter lugar para oportunistas) em quem poremos as culpas? Eu quero eleger um culpado! Ou transferir as minhas culpas. Não temos mais condição de fazer o que vivemos fazendo: individualizamos problemas que são coletivos, coletivizamos as misérias e as desgraças humanas e socializamos apenas sorrisos e murmúrios raivosos.

Ouvi uma frase certa vez que todo pessimista é burro ou rico. Acho que ela foi elaborada por um pessimista. Eu me enquadro no meio. Não da riqueza ou da burrice, mas entre o pessimismo e o otimismo.



* Texto do G Dantas aqui
**Texto do Adhemar aqui

segunda-feira, 21 de maio de 2012

TITIO DE ESCOLINHA

imagem google

Quando a minha primeira filha nasceu, eu morava no interior de Minas e quis acompanhar o seu desenvolvimento sem perder nada que estivesse ao meu alcance e capacidade de pai calouro. Chegada a época da escolinha eu ia às reuniões, conversava com  as professoras, ajudava nos trabalhinhos, fazia a merenda, levava, buscava, enfim, participava da vida dela desde o maternal. Empolguei-me tanto que lancei um movimento na cidade levantando a bandeira de homens poderem ser titios de escolinha. A cidade era muito conservadora e não fui à frente. Mas que eu gostaria, isso eu gostaria!

A tal da evolução que tanto gostam de materializar em mídia, falas e teses meio esquisitas ficou em débito com esse preconceito histórico (além dos já inumeráveis e cansativos). Por que um homem não pode ser professor de maternal? A desculpa de não poder dar de mamar não cola, já que as crianças quando vão para esses estabelecimentos já são desmamadas. E as tias também não o fazem com alunos, salvo em situações  excepcionais solicitadas e consentidas. Inclusive, os pequenos costumam adquirir hábitos que a gente custa a evitar neles em casa. Minha filha mais nova, por exemplo, até os dois anos, só conhecia água e leite materno como alimentos. Foi só ela voltar no segundo dia de escolinha e já estava pedindo “resfilelante” e chips. Faz parte do processo de socialização, no entanto, e cabe aos pais travarem uma batalha inglória contra os considerados maus hábitos alimentares.

Outro argumento que antecipo seu contraditório seria o da falta de jeito masculino com coisas frágeis e delicadas (no caso, as crianças). Ora, se isso não faz mais parte de um passado de triste memória, também não faz parte do presente tanta delicadeza maior do lado feminino, visto que as notícias de maus tratos em creches e escolas infantis não são poucas nos últimos tempos pelo Brasil afora! E seria uma ótima oportunidade de abrandar modos e corações masculinos mais rudes. Afinal, nada melhor do que a inocência e pureza para ensinar a nós um pouco de doçura na vida.

Continuo em minha saga na defesa dessa prerrogativa. Não mais para mim que acho ter passado do ponto. Mas para jovens que aí estão, tantos sem perspectivas muito nobres e mais voltados para um individualismo exacerbado do que para a construção de uma fraternidade que as crianças tanto inspiram, estimulam e ensinam.

domingo, 13 de maio de 2012

VERSINHOS FAMILIARES


I

Cantei no coral da escola,
Soltei muita pipa, carrinho era feito de ripa,
Depois das aulas jogava sempre muita bola.
Reunia a turma em prosa inocente,
Não havia medos maiores que a noite*,
Assombração era só estória, gente era gente.
Quem dava trabalho no bairro era bêbado babão,
Maioria das vezes, vindo da boite*
A gente ajudava a rebocar pra casa
pra que não caísse no chão.

Momentos de uma boa infância

P.S.:
* (se Quintana no poema Canção da Vida rimou Renoir com poluir, que é que tem eu rimar noite com boite?)

II

Crescendo a família em pencas
Meninas e meninas debatendo
Não havendo um ouro no berço
O jeito era ir vencendo
A mãe ganhando nos arranjos de avencas
Os filhos, uns estudando, outros no terço
O pai, suando na labuta  e haja renda

Lembranças de um pouco da adolescência

III

Independência foi consquistada
Cada um pro seu lado, seja solteiro seja casado
De casa levando amor , sonho e vontade
Sem isso ninguém vence a jornada
Ganhando experiência, gerando prole, eis o legado
Para o ciclo onde o tempo, senhor de tudo invade

Instantes da vida que segue.


Obs: Poeminha republicado para fazer parte da comemoração do dia mundial da família. Interação proposta pela Norma Emiliano do blog Pensando em família 



Na oportunidade, deixo aqui o meu carinhoso e fraterno abraço a todas as mães. paz e bem.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

DE ONDE SOU MESMO?


Nos últimos tempos  quando me perguntavam de onde sou eu costumava responder que nasci em Itabira, mas me considerava de lá, de BH e de Mariana, as cidades onde morei praticamente um terço de minha vida em cada uma. Ultimamente estou em Itabira, para onde voltei faz um tempinho e me sinto um completo estranho. Tive e oportunidade de ir a Mariana há pouco tempo e me senti um estranho. Em BH eu nem preciso dizer isso, pois acho cidade muito grande, lugar de alheamentos, impessoalidades e indiferenças. São tão comuns que soa estranho quando há amabilidades. A desconfiança vem acompanhada daquele ditado, “quando a esmola é muita, até o santo desconfia.” Fui comentar esse estranhamento com uma amiga e ela me disse que as cidades cresceram muito, que as coisas mudaram, que o mundo está evoluindo. Quando ouvi esta última palavra fui acometido pela chatice que me ataca quando me falam de evolução. Mas não briguei com ela, para não reforçar a minha chatice.  

Entretanto, nos prós e contras inevitáveis que a gente vai contabilizando com as mudanças vivas, continuo achando o interior um melhor lugar para se viver. Aqui ainda há gentilezas no trânsito, muito embora ele não seja tão amistoso e nem tão selvagem como na cidade grande. Aqui a gente ainda abre o portão de casa com menos medo. Aqui a gente ainda costuma ser tratado com muita reverência no comércio. Outro dia mesmo eu entrei numa farmácia e descobri que aquela velha história do fio do bigode está em franca atividade. A moça me perguntou depois que eu comprei uns medicamentos se era para anotar na caderneta. Nunca havíamos nos visto. 

Aqui, assim, do nada, lhe dão bom dia, boa tarde, boa noite aonde quer que se encontrem pessoas. Outro dia também, saí para fazer quatro coisas na cidade em quatro lugares diferentes. Fiz tudo e quando chego em casa, descobri que havia gastado apenas quarenta minutos para fazer as quatro coisas. Fui correndo até a casa de minha irmã, abismado, comentar com ela. Normalmente em BH esse tempo era o que eu gastava apenas me deslocando até o primeiro lugar onde tivesse que ir. Ah, e já me policiei também, minha falta de educação estava exagerada no trânsito. Aqui, nos locais de maior fluxo, os carros costumam parar quando alguém pisa na faixa de pedestres e esperam a pessoa atravessar a rua. Fiquei cheio das culpas ao lembrar se naqueles 40 minutos anteriores eu não tinha deixado alguém de cara amarrada comigo por não tê-lo esperado atravessar a rua.

Então, eu vou reforçando a ideia de que eu sou de onde me sinto melhor, tiro o melhor para mim e dou o melhor de mim, pois é isso que faz a gente amar um lugar e, portanto, criar uma identidade através da memória afetiva com esse lugar. Idealista que ainda sou e com esse propósito no coração dá vontade de um dia poder dizer verdadeiramente: Sou cidadão do mundo.



quarta-feira, 2 de maio de 2012

AGRADECIMENTO


Um dia eu participava de um seminário sobre planejamento estratégico e a pergunta que surgiu na minha turma para iniciar as trocas de ideias e elaboração de rumos foi: o que pode nos derrubar? Aquilo serviu como início da formulação de pontos e contrapontos; possibilidades e obstáculos; ações e reações. Racionalmente, eu diria que é um método muito bom para se traçar metas e tentar segui-las o mais próximo possível de nossas capacidades, empenhos e vontades. Aquele planejamento não previa nenhuma emoção. Ela deveria ficar reservada para a hora de determinadas ações. Racionalmente também, uma ação planejada feita com o coração à frente tem menos chances de sair bem sucedida. Planejamento é seco, direto e mesmo que tenha flexibilidade ele é do campo da razão acima de tudo.  Na vida pessoal, no entanto, não dá para ser assim. Pelo menos na minha. Por mais planejamentos que eu faça, se a emoção não acompanhar cada etapa de sua elaboração e das ações, só terá graça se eu colocar o dinheiro como meta ou a vida material sobrepondo-se a tudo o mais. Também não é o meu caso.  O planejamento pessoal é originado dos sonhos e sonhos são vontades do coração muito mais do que da razão. Aí, quando acontece um revés  muito intenso  na nossa vida, ficamos totalmente à mercê do lado psicológico, todinho movido de sensações e sentimentos dos mais variados. A razão trava uma peleja ferrenha com o nosso lado emocional e o corpo é o ponto de absorção do resultado, seja ele o equilíbrio ou o desequilíbrio completo.

Aconteceu comigo um desses combates e eu estou saindo bem dele exatamente por causa das emoções que me cercaram o tempo todo para dar tenência à razão. Elas manifestaram-se através do apoio familiar e do carinho e atenção dos amigos, esses verdadeiros pilares de nossa manutenção vivos, energizados e com vigor para enfrentar a caminhada da existência. Foram os amigos reais e os virtuais, porque eu misturo tudo num lado só do coração. Se tivesse um planejamento a seguir durante esse período teria fraquejado completamente. 

Hoje (dia 1º de maio) cheguei de um retiro na roça e ao abrir meu correio, vi uma mensagem do Márcio Jr. Um amigo que fiz no Recanto das letras, já faz mais de três anos e que ficamos chegados  (para mim de verdade mesmo). Ele convocou uma rede de afeto, solidariedade e apoio nos blogs amigos que eu fiquei sem chão de tanta emoção boa que senti por  cada uma e cada uma que prestou homenagem. Teve de tudo: música, poesia, citações, prosa poética, acrósticos, revival, crônicas, uma linda oração e sorrisos. Nem que eu vendesse milhões de livros estaria tão feliz como fiquei com as homenagens e afagos. MUITO OBRIGADO A TODOS. Eu fui à página de cada um que publicou para agradecer e se esqueci ou não vi alguma ainda, rogo desculpas e peço que me digam para que eu possa retribuir com alegria e prazer.
Também quero dizer que estou voltando (devagarinho , mas pra ficar). Aos que me visitaram no período de minha ausência, peço paciência que retribuirei um por um. Foram tantas visitas que eu acredito levar uma semana, pelo menos para poder visitar a todos.

E saibam que esse carinho não ficará esquecido jamais. É muito bom isso.
Paz e bem pra todo mundo.



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