sexta-feira, 30 de abril de 2010

EMBROMAÇÃO

A língua portuguesa é um tanto difícil, isso é um ponto pacífico. A dificuldade, no entanto, não chega a ser uma unanimidade, pois há quem a domine absolutamente. Graças a esses poucos seres ungidos de clarividência vernacular, vamos caminhando trôpegos, mas em frente na nossa comunicação escrita e oral. Seja falando ou escrevendo os deslizes são inevitáveis. Volta e meia maculamos impiedosamente a língua pátria. A comunicação vem sendo estabelecida ao longo do tempo e apesar de tudo, embora de vez em quando uma ou outra vírgula fora de lugar ou ausente possa provocar estragos irreparáveis ou perda de oportunidades.
Você poderá dizer agora, por exemplo:
- Não quero saber disso!
Ou então:
- Não, quero saber disso! Faz toda diferença. Há quem se incomode e há quem não se incomode com tantas regras, desde que a comunicação cumpra seu papel essencial de transmitir e receber uma mensagem codificada nas letras ou nas palavras. Há as formalidades onde ela é exigida em seu uso correto e outras situações em que os interlocutores podem se colocar à vontade na expressão, como ocorre corriqueiramente no dia-a-dia da maioria. O mau costume para uns pode se tornar um incômodo e para outros virar motivo de gozação. Eu me enquadro nesse “outros”, primeiro por ser um gozador nato e segundo porque eu também não sou nenhum Professor Pasquale.

O gerúndio é um desses casos que estou pensando seriamente se não deveria fazer constar no rol de queixas do procon por suas ofensas aos ouvidos mais sensíveis. Algo que não seja pedante em termos de reclamação quanto à correção, mas pelo menos uma inclusão que possa ser encaixada entre poluição sonora e insalubridade. Depois de estar sendo indevidamente violentado, foi ganhando uma feiúra insuportável.

Eu sei que você não vai estar chegando ao final da leitura desse texto pois já desde o início vai estar achando-o muito chato. Até o corretor gramatical do word, que não é lá grande coisa nem confiável sublinha quase tudo que estou escrevendo. Deve estar “se achando!” Pois, se você andou vindo até aqui, vá se preparando. Daqui pra frente eu vou estar falando num tom que poderá ir lhe irritando.

Celular, telefone fixo, internet, tv a cabo são exemplos de embromação que vou estar lhes passando.Dá para se ir tendo uma vaga idéia de quem andou inventando a fala que nunca chega ao fim. Parece que está sempre caminhando enquanto fala. Acredito ser o pessoal dos call centers e telemarketings. Porque eles estão sempre caminhando na nossa frente a fim de estarem sumindo de nossas queixas e ficarem evitando de estarem resolvendo os nossos problemas enquanto estamos reclamando de alguma coisa não atendida ou serviço não executado, ou cobrado sem ter sido executado. As atendentes não estão nem ligando se quem está do outro lado da linha é uma pessoa ou não. Vão mandando a gente estar aguardando enquanto vão estar consultando o departamento responsável. E com uma musiquinha insuportável que vai estar tocando, vão nos enrolando.

terça-feira, 27 de abril de 2010

LANÇAMENTO DO LIVRO A VIDA DO BEBÊ-SEGUNDA PARTE-DE 40 PARA FRENTE

Foi no dia 20 de abril aqui em BH, no Café e Livraria Status
Obrigado a todos!!!!
Alegria total!
(OBS: Vai dar uma impressão de que há fotos repetidas, mas é por que havia 2 pessoas fotografando lado a lado e muitas fotos ficaram parecidas.)



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Caso alguém que tenha aparecido nas fotos não autorize a sua divulgação, é só me enviar um e-mail (kkadao@gmail.com) e eu a removo imediatamente

AMANTRIMÔNIO *

PROJETO DE LEI QUER RESPONSABILIZAR AMANTE POR EVENTUAL PENSÃO ALIMENTÍCIA.

Com o objetivo de estabelecer justiça em caso de separação por infidelidade, o deputado pretende responsabilizar o amante pelo pagamento de uma possível pensão alimentícia. Paes de Lira afirma que sua preocupação é para com a parte mais prejudicada, o traído, que muitas vezes acaba sendo injustiçada.
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Fonte:
http://delas.ig.com.br/comportamento/projeto+de+lei+quer+responsabilizar+amante/n1237545065603.html
12/02/10
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A CRÔNICA

Eis aí uma daquelas situações em que por uma decisão de foro íntimo, você pode ir parar no fórum público.

A pessoa é agraciada com um presente, no caso, uma outra pessoa, que se torna então, sua amante. Agraciada, sim! Não acredito que alguém saia por aí com o propósito deliberado de arranjar amante. Acontece. Ou estou por fora? Amante sendo quem ama, poderá ser qualquer dos dois. Isso é o que vão alegar os advogados de defesa de ambos os lados na hora em que a queixa da pensão for parar na mesa do juiz.

Eu vou iniciar uma campanha para coleta de assinaturas – será que consigo um milhão? – para que se coloque no código civil a união legal dos amantes com o nome de “amantrimônio”. E depois vou, com o tempo, ver se consigo que no Aurélio ou no Houaiss passe a constar a palavra como o casamento escondido, porém com todos os direitos legais em caso de desmanchar-se a união dos amantes. É uma baita evolução nas relações sociais esse projeto do deputado, uma vez que a traição já é fato consumado. E aqueles casos em que o cara é tão assíduo de sua amante que a própria mulher é que passa a ser a eventual? Você poderá dizer: a oficial será sempre a oficial. E eu vou lhe dizer, era apenas no papel, pois com a nova lei a dúvida vai ser evocada na hora das barras dos tribunais.

Por exemplo, dois casos que conheci: No primeiro, Ivonaldo casou-se e amancebou-se. Constituiu numerosas famílias dos dois lados. Quatro filhos com uma e três com a outra. Chegava do trabalho todos os dias, ia direto ao supermercado, fazia as compras e levava para casa oficial. Tomava um banho e lá vai Ivonaldo de novo ao supermercado às compras para abastecer a despensa da outra. No segundo caso, Araken casou-se e amasiou da irmã da própria esposa. Também sustentava as duas casas. Chegaram mesmo a morar todos na mesma residência - contenção de gastos com a aceitação de ambas, segundo suas próprias palavras.

Como evoluímos, não? A tipificação do adultério no código civil brasileiro é de crime contra a monogamia obrigatória. Essa nova proposta de lei é um passo para a oficialização da poligamia. Não é um julgamento que faço, é apenas um acompanhamento da evolução das relações sociais. Então, se o amante ou a amante é passível de ser penalizado com as responsabilidades da manutenção da casa ou da(o) teúda(o), que se estabeleça também no código civil , o direito legal de ser amante. E aí também não se poderá limitá-lo em número. Serão quantos a pessoa suportar ou quantos tiver capacidade monetária de arcar com eventuais pensões que vierem a ser reclamadas em caso de dissolução do amantrimônio.

Eu fico aqui pensando como é que vão ser resolvidos os casos do Ivonaldo e do Araken.

domingo, 25 de abril de 2010

BRILHANTE!

Eu estava notando meus braços bastante brilhantes, com um pozinho parecendo estrelas. Então pensei: Meu Deus, a sorte está me perseguindo! Estou me tornando do nada uma pessoa brilhante. Vim do pó e o meu resolveu brilhar na minha pessoa, em pele. Pode ser a glória. Mas, de quê? Essas coisas a gente costuma não perceber. É a tal da felicidade que pode estar batendo à porta e passar despercebida. Isso foi por dois dias seguidos.

Eu, como gosto muito de cozinhar, fico sentado ao computador e vou e volto sempre à cozinha, preparo alguma coisa e enquanto cozinha ou assa ou frita, venho, escrevo, leio, navego. Invento fomes, invento pratos ora degustáveis, ora insossos e intragáveis. Nesse meio tempo, a escrita costuma sair meio esquisita também. Escrevi até um versinho certa vez de tão cansado de insucessos literário-gastronômicos. É assim:



POEMINHA TOSTADO


Cozinhando e pensando

Vou lembrando de escrever

Deixo a panela. Lavo as mãos

Sento. Esqueço

A comida vai queimando

E vou perdendo a batalha

Do fogão e da palavra.

Fui alertado pela minha mulher que ouviu minha exclamação de feliz agraciado com o brilhantismo. “Não, isso, é o bordado do pano de prato que eu coloquei para você na cozinha. Ele é enfeitado de purpurina.” Então, meus caros e estimados leitores, se esta crônica não lhes descer bem, pelo menos lhes digo que a comida de hoje ficou brilhante!

sábado, 24 de abril de 2010

UNIVERSOS PARTICULARES

Em 2008 criei um blog e no ano seguinte entrei para o Recanto das Letras. Depois disso, fui confirmando pouco a pouco uma impressão que já me era familiar: a de que vamos criando universos paralelos e muito particulares pelo caminho.

Publiquei um livro e um amigo de longas datas foi uma das primeiras pessoas que o adquiriram. Ocorre que ele não leu. Me confessou que vai ler assim que tiver tempo. Sei que não vai. Se o fizer vai ser apenas para me agradar. Não é menos meu amigo por esse motivo. O hábito da leitura não faz parte de seu mundo e acho que não vai fazer mais. Dificilmente uma pessoa que não criou um costume desse tipo o faça por prazer a certa altura da vida. Ele já está próximo dos sessenta anos e não vai ser o meu reles livrinho que vai lhe mudar os hábitos. No Recanto e no blog a gente tem um público que faz parte de um desses universos dos quais estou falando. O da escrita e da leitura. Pelo menos boa parte das pessoas com quem convivo ou é leitor/a voraz ou escritor/a, ou faz por prazer. O fato é que é um universo. Como há vários em torno de cada um de nós.

Trabalhei uns 20 anos numa empresa e convivi com vários universos particulares. Tinha aqueles que apesar da profissão e de seus afazeres fora do emprego, só viam na vida futebol; outros, só mulheres; outros, só trabalho; outros chegavam a ser mais abrangentes em busca de um universo maior diante de alguma inquietação mental, e assim por diante. Desse modo, eu vejo as pessoas procurando o seu lugar no mundo, batendo cabeça aqui e acolá ou então já se identificando de imediato com algo de que gostam e se sentindo muito bem, se adaptando, se ajeitando e não dando muita pelota para o resto. Não quero dizer com isso, que seja falta de sociabilidade. É apenas um “cada macaco no seu galho” em termos de escolhas, quando elas são possíveis. Neste caso, construímos o nosso próprio universo por gosto pessoal, por afinidades ou então somos engolidos ilusoriamente por algum universo que nos cabe e nos aceita.

As pessoas que costumamos chamar de “gente boa” talvez sejam aquelas cujo carisma que emanam as faça transitar com uma habilidade singular em todos os universos, fazendo deles o seu próprio. E vão mais além, são capazes de aglutinar pessoas de universos diferentes. Estas são deveras especiais de boas. Assim como são especiais de ruins “aquelas outras” com uma enorme habilidade para criarem desavenças, cisões e encrencas. Tem horas que eu até desconfio que ser gente boa seja melhor do que ser famoso em muitos e muitos casos de gente que é e de gente que quer ser famosa! Porque é dureza agüentar quando o universo cisma de querer caber dentro do umbigo de uma só pessoa!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

FELICIDADE É UMA CONSTRUÇÃO QUE NÃO PODE TER FIM

A respeito da felicidade, eu não descobri ainda como defini-la em termos de uma vida plenamente feliz. Na minha definição essa plenitude não existe, para o bem da nossa mobilidade em sua busca. É como se quiséssemos alcançar um fim quando estamos voando para o infinito do universo. Estando felizes, haverá uma sensação de saciedade com o vôo, mas o espaço aéreo continuará a oferecer outros lugares muito bons de se ver e outros inatingíveis. Haverá também turbulências durante o vôo. Quedas também poderão acontecer. Mas enquanto estivermos voando, a sensação de alegria que não se explica fica fazendo-nos companhia. Em alguns momentos, os obstáculos e as quedas são para tomarmos partido: queremos mesmo felicidade? Então é hora de resolvermos enfrentar os problemas ou desistirmos de vez. Nessas horas contamos com as nossas forças próprias e com as que se juntam a nós indispensavelmente através do rol de amigos e de familiares, gente que quer o nosso bem, que caminha conosco e ajuda a preparar nossas asas. Então, eu acredito que essa definição provisória é o máximo a que consigo chegar para explicar a alegria que sinto com a vida quando se realiza algum sonho, se materializa algum desejo interior, quando se está ladeado pelas pessoas que gostam da gente e de quem a gente quer bem. E aquelas que não estando de corpo presente, estão de alma e coração fazendo parte de uma corrente imaginária de bem querer. Quando a família está ao lado de onde nunca deve sair, quando a fome e a sede se tornam apenas um detalhe sem importância vital. A gente se sente alimentado por toda substância protéica e vitaminada em que se transforma aquela alegria. É quando se pensa assim: Deus, o Senhor tem toda razão de fazer de nós seres que precisam buscar continuamente as coisas que nos fazem bem em vez de sentarmos à beira de caminho ora pedindo, ora lamentando os infortúnios. Porque você mostra que a tal da felicidade sempre pode estar em algum lugar ou alguma coisa depois que fizermos a nossa parte para que cheguemos ao final de uma reta, de alguma curva do caminho, depois de subir alguma montanha íngreme. Se um dia eu declarar que sou completamente feliz por tudo que a vida proporciona e oferece, é porque a minha vida terá chegado ao fim também. O infinito está sempre à disposição.

terça-feira, 20 de abril de 2010

ANIVERSÁRIO

Hoje é um dia para mim considerado como um nascimento. Passei esses anos todos achando a data que comemora o dia em que nasci como mais um aumento dos anos vividos do que um renascimento. Construí outras formas de comemorar aniversários. Como exemplo, qualquer fato bastante significativo que tenha havido em minha vida. E também os que planejo para o que virá por aí. Teria um monte de datas para lembrar. O meu primeiro emprego, as minhas filhas, casamentos, a primeira casa própria, que já não mais possuo, mas foi meu espaço mais íntimo que consegui ter adquirido depois de muito sonho e muitíssimo trabalho... Enfim, datas que acabaram se tornando mais significativas do que o dia do meu aniversário propriamente. Em todos esses momentos eu encontrei mais importância para o meu crescimento pessoal do que aquele momento da foto e do bolo. Se bem que em todos os outros que falei também houve festa. A questão é do significado que cada um dá para ritos por que passamos na vida. Os presentes que eu ganho são o próprio significado do evento. Naquilo que eu penso ser uma vida que proponho para mim como virtuosa e bem-aventurada. Renasço em cada olhada para dentro quando vejo que estou vencendo o vício da bebida. Em cada vez que as minhas filhas alcançam um patamar de conquistas pessoais, seja na escola ou no trabalho. Em cada reunião de família, sempre prazerosa, saudável e aconchegante. Em cada vez que meus exames de saúde revelam um “apto” para fazer o que eu quiser sem abuso e também sem restrições. Em cada ligação ou encontro de uma amizade que não ouvia ou via há muito tempo. Ou ainda em cada nova e sincera amizade que faço. É tanta coisa que eu poderia citar e que nem interessa para quase ninguém, mas eu continuo achando que tenho muitos aniversários comemorados desse meu jeito e acho que ainda vou comemorar muitos mais, se Deus quiser. Por hoje eu vou ficar aqui, pois há uma comemoração muito especial. É o dia do lançamento do meu primeiro livro. Vou estar daqui a pouco reunido com meus familiares, amigos antigos e amigos novos. Pouca gente, mas gente de muito valor e significado para mim. Mesmo os que não poderão ir e que me felicitaram estarão presentes no pensamento e na minha alegria de saber que os tenho guardados no coração e eles a mim. Vou lá acender uma velinha e soprar com um gostinho de dois de setembro.


sábado, 17 de abril de 2010

O PAPAGAIO DE MULETA, A MULA DE CADEIRA DE RODAS, O PUXA SACO E O DISCO DE VINIL

Geraldinho do Engenho é um grande poeta, um ótimo cronista e um dos melhores contadores de causos que eu conheço. Ele escreve diariamente no Recanto das Letras, para quem ainda não sabe. (Para acessar a sua página, clique: http://recantodasletras.uol.com.br/contos/2178196.) Ele conta umas histórias acontecidas lá pelas bandas de Bom Despacho, e sua enorme região metropolitana, cidade do centro-oeste dessa gloriosa Minas Gerais, onde há muitas fazendas e gente da melhor qualidade. Eu como creio muito na natureza, na sabedoria que o homem vai adquirindo no contato com ela, sem fazer destruição, mas aprendendo, tenho cá também os meus casinhos, que não chegam aos pés do Geraldinho em termos de narrativa de qualidade, mas não deixam de ser igualmente verídicos. Depois que eu li o último dele (O PAPAGAIO DE MULETA E O PUXA SACO) falando sobre um papagaio que andava de muletas e de um moço que queria agradar o patrão arranjando uma cadeira de rodas como castigo para uma mula atrevida, resolvi contar uma história que eu guardo desde a época dos antigos discos de vinil. Pois vamos a ela.

Certa vez lá em Jacaraípe, no Espírito Santo, o rio que deságua na praia trazia muito lixo e trouxe um disco, desses antigos LPs só pela metade. Ele veio descendo na água e agarrou num barranco, de forma que a água ia batendo por baixo lhe fazendo rodar. Então, no dia do acontecido houve uma chuva e caiu um graveto bem ao lado como se fosse um braço de agulha de uma vitrola e ficou riscando o disco. A beira do rio ficava cheia de gente com suas varinhas de pescar e proseando enquanto aguardava uma beliscada de algum peixe distraído ou faminto por uma minhoca. Eu ia sempre lá jogar a minha varinha nem que fosse só para lavar as iscas, pois de pesca não sou lá muito bom. Então, quando se fez aquele silêncio misericordioso que os pescadores se impõem nos seus rituais, havia um som estranho. Repetitivo, chiado e muito estranho. Eu fui caminhando em direção àquele ruído, até que avistei o pedaço de disco rodando com o graveto lhe riscando os sulcos. Você não acredita que dava para a gente ouvir um trechinho da música? Ficava só repetindo assim: "...você não dorme mais no meu colchão, você não dorme mais no meu colchão, você não dorme mais no meu colchão...” Só não deu para ler o nome do autor. Acho que a água havia apagado aquele miolo do disco aonde vinham escritos os nomes das músicas. Depois de um tempo, para não perder a credibilidade, voltei lá na cidade, fiz um relatório, colhi as assinaturas das testemunhas presentes no dia do acontecido e entreguei ao prefeito para que ficasse registrado. Só não sei se ainda está guardado nos arquivos do município.

terça-feira, 13 de abril de 2010

PALAVRÃO

Palavrão é uma falta de recurso muito utilizada. Às vezes, de grande utilidade, em outras, absolutamente desnecessário, ofensivo e inconveniente. Quando lhe acontece um acidente de qualquer natureza é comum se dizer (depois de xingar, claro) que estava no lugar errado, na hora errada. Com o palavrão chulo e ofensivo pode-se dizer também que foi dito na hora errada, no lugar errado e muitas vezes para a pessoa errada. Mas pode também ser uma lavagem na alma, individual ou coletiva. O velho xingamento nos estádios, por exemplo, é uma terapia no meio da catarse coletiva. Até as músicas das torcidas para provocar o adversário são repletas de palavrões. Não sei se pela vontade de aumentar o grau de irritação ao adversário ou pobreza lingüística dos compositores. O fato é que a torcida canta com um vigor fenomenal. Nos filmes do cinema tem palavrões demais. Houve uma época que o cinema brasileiro não gozava de muito prestígio junto à população tanto pela falta de recursos técnicos como pelos diálogos, cheios de palavras chulas. Claro que havia muita desculpa esfarrapada no meio dos argumentos vinda de quem sempre preferiu as produções de Hollywood. Mas isso é assunto para outra sociologia, aquela da aculturação. É, porque os filmes americanos têm mais palavrões do que os nossos. Os tradutores que fazem as legendas é que dão uma amenizada. Pode observar que “fuck you”, é sempre traduzido por dane-se. E “son of bitch “ é sempre o “adorável” filho da mãe.

Eu não quero entrar na discussão árida e descabida da função do palavrão no nosso cotidiano, mesmo sabendo que ele está presente na fala da esmagadora maioria da população. Ele é sinônimo de tudo, raiva pouca, muita raiva, ira, provocação, revide e até nos sustos, alívios e alegrias. Parece automático. É muito comum você ouvir pessoas emendarem um” putaquepariu” com um “pelamordedeus” na mesma frase ou na mesma expressão. A sensação que se tem é de que a pessoa está expurgando males que não consegue resolver de outras formas. O palavrão, então, funciona como uma espécie de válvula de alívio do sistema límbico em permanente estado de acúmulo de tensões.

Eu não o defendo indiscriminadamente, embora ache que um xingamento funciona, em determinados momentos como um freio aos instintos humanos mais próximos do assassinato. Chico Buarque usou em sua música Fado Tropical o verso do poema do Ruy Guerra ”...mesmo quando minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e, sinceramente, chora...” Eu sacaneio um pouco o verso e digo : mesmo quando a minha vontade é de esganar, trucidar, esmigalhar, meus olhos se abrem arregalados e eu, sinceramente, xingo.
Então, meu amigo, minha amiga, se uma pessoa, assim, do nada lhe oferecer flores, pode ser um impulso dos mais admiráveis. Agora, se também do nada, numa conversinha à toa, lhe mandar tomar “naquele lugar”, pode não ser uma ofensa gratuita. Ela pode ser portadora de coprolalia. (palavrão da medicina moderna)

-Psiu: atenção, mulheres: e se um homem chamá-la de calipígia, você vai sentir-se xingada por um palavrão ou lisonjeada?



domingo, 11 de abril de 2010

FABULETA *

Um dia o diabo resolveu dar umas voltas sobre a terra e aterrissou no Brasil. Aterrissou é mentira, posto que veio lá de baixo: então irrompeu no Brasil. Circulou geral e como não podia deixar de ser, andou visitando parlamentos, palácios de governos e outras plagas que abrigam umas pragas eleitas pelo voto. Fez muitos amigos, entabulou muitas conversas, deu conselhos e, principalmente, fez muitos tratados. Disse aos seus pares que poderia lhes oferecer o paraíso se seguissem os seus ensinamentos. O paraíso, a seu modo, claro! Com os seus métodos e também com os seus riscos. Garantia inclusive, que a taxa de risco seria muito baixa, a fim de conseguir bastantes adeptos. Disse também que havia o paraíso prometido, “o outro”, mas esse, quem o desejasse, que fosse se queixar com um bispo, afinal era demorado alcançá-lo e não havia garantias reias. Garantias do tipo as que ele mostrou ao levantar seu saiote, mostrando a cueca e as meias recheadas de dinheiro. Um pacto foi assinado de imediato por muita gente com olhos brilhando e lambendo beiços. Uns já suspeitos, outros insuspeitos até então. No ato da assinatura, no entanto o diabo avisou: - a condição para ser membro desse doce paraíso é que meu nome nunca apareça. Sabem como é, ando meio desgastado perante a opinião pública e isso não é bom para mim e pode não ser para vocês numa eventual reeleição. Então, em todas as suas campanhas, dirão nos comícios e também depois de eleitos, em todos os meios de comunicação possíveis:

A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS.



* Fabuleta é uma pequena fábula sobre as peripécias do capeta.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

EXERCÍCIO DE DESCONSTRUÇÃO

Acho que estou começando a entender a correria de todo mundo. Não tem um porquê. Tem um começo a partir de um momento que ninguém sabe explicar e deságua num momento que ninguém quer explicar.

Todos correm para ganhar dinheiro, certo? Não é tudo o que é preciso e que importa? Ganha-se dinheiro trabalhando muito, certo? (Estou falando das pessoas normais, certo?) Sobra muito pouco tempo, certo? Muitos pais e mães estão quase a ponto de terceirizar completamente a educação dos filhos, certo?

Drogas, violência e psicopatias sempre foram companhia humana, certo?Tem aumentado o número de jovens envolvidos em casos de violência, certo? Os pais não têm nada a ver com isso, certo? Afinal eles pagam boas escolas, dão conforto, roupas de marca, objetos de uso pessoal de última geração e o que mais os meninos e meninas solicitarem, certo? Os que não têm recursos provindos de trabalho ou berço de ouro recebem uma ajuda governamental, desde que provem que estão freqüentando uma escola, certo? Mesmo que isso não seja um indicador de futuro garantido em termos de inserção no mercado de trabalho e nas melhores universidades, certo? Essa é a maneira mais correta de se viver, segundo está espalhado por quase toda a coletividade, certo? Quando as coisas começam a não dar muito certo, tem-se então em quem e em que colocar a culpa, certo? Afinal, não se está pagando? E não somos todos, em última instância, tratados como consumidores de tudo?

Então, se nada disso está certo, ponto para a tese que defende que uns nascem com uma índole má outros com uma índole boa. Se, por acaso, não houver durante o período de sua formação um sinal que indique de que lado essa pessoa estará no maniqueísmo humano e for previamente tratada, ela será tão boa que vai servir de modelo para a redenção do mundo ou então tão má que vai ser alvo de toda a ira expurgante que nos acomete quando alguém provoca perversidades que nos atingem diretamente ou de alguma outra forma que cause repulsa.

E está muito chata esta minha abordagem, certo? É assim mesmo a construção cotidiana da nossa intolerância: A repetição de equívocos em busca de respostas. Certo?

terça-feira, 6 de abril de 2010

PEDOFILIA *

A igreja católica, com atraso de séculos criou recentemente um canal (apenas na Alemanha) para que as pessoas possam denunciar casos de pedofilia praticada por seus membros. Desde a época inquisitorial, há casos onde os componentes do clero acusados de denúncia de abusos sexuais não receberam o rigor da pena pela igreja conforme seria esperado. Está tudo registrado nos autos do tribunal da inquisição, cujo maior acervo se encontra no Arquivo Nacional na Torre do Tombo, em Portugal.

O próprio Papa já havia se reunido com o clero Irlandês no inicio desse ano para tratar do assunto considerado muito recorrente naquele país. É sabido que a pedofilia é um caso muito antigo, remonta à antiguidade, antes mesmo de Cristo. Em algumas culturas, há casos de emancipação de meninos apenas depois que os mesmos são sodomizados por um adulto membro da comunidade. Faz parte dos ritos de passagem deles1. No nosso meio ocidental, pelo menos, a pedofilia é tipificada no código penal como crime hediondo, entretanto, ocorre entre famílias pobres ou ricas, entre políticos influentes, entre juízes, entre grandes e pequenos empresários, entre trabalhadores e desocupados, e gente comum, entre muitos religiosos de muitas igrejas e não só a católica. Então estou apenas fazendo constatações e revelando alguns dados que pertencem ao domínio da história.

Pode parecer um paradoxo, um fenômeno que beire a escatologia, mas no sentido da depuração de chagas sociais, acredito que estamos é melhorando. As novas tecnologias da informação permitindo o acesso muito rápido a quase tudo o que se faz e se produz no mundo com uma admirável e espantosa rapidez, faz com que o susto seja amenizado quando observamos que a sociedade se mobiliza para colocar um fim nos casos de verdadeiras anomalias graves. No entanto, é essa mesma tecnologia que permite que os agentes da pedofilia se multipliquem em tempo e espaço, utilizando-se do principal meio de sedução de suas potenciais vítimas, no caso, a internet.

O melhor meio para se combater uma anomalia social, creio, é tornando-a de domínio do público através, tanto de denúncias que incitam ao debate e a mobilização social quanto, claro, com a punição rigorosa dos acusados e/ou o seu isolamento com tratamento quando os casos forem de comprovada sociopatia grave ligada a perversões.


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1 – Rituais de pederastia compulsória na Melanésia. – HERDT, Gilbert, Ritualized Homossexuality in Melanésia. Berkeley, University of Califórnia Press, 1984.
* Fontes:
- História da Criança no Brasil, Mary Del Priore (org), Coleção Caminhos da História, Ed. Contexto (CEDHAL), 2ª ed. São Paulo, 1992.
- site
www.todoscontraapedofilia.com.br/.../index.php?...cria...denuncia...pedofilia...
- BBC Brasil -
www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100329

domingo, 4 de abril de 2010

HUMOR HERÉTICO

No calvário de Jesus foi assim:

Quarta: Trevas;

Quinta: Endoenças;

Sexta : Paixão;

Sábado: aleluia;

Domingo: Ressurreição.

No moderno capitalismo cristão: todos os dias:
Ovo,ovo,ovo,ovo,ovo.





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Autor desconhecido

sexta-feira, 2 de abril de 2010

ALDROVANDO CANTAGALO E A PORTEIRA FECHADA

Aldrovando Cantagalo é um personagem de um conto de Monteiro Lobato, O Colocador de Pronomes. Nasceu e morreu devido a erros de gramática. O homem que veio a ser pai do Aldrovando cometeu um erro fatal num bilhetinho de amor a uma filha de um coronel e este lhe empurrou a outra filha encalhada e não a moça para quem o bilhete era dirigido, uma belezura de menina! No final de sua vida, ele acometido por uma doentia ligação com a correção gramatical e uma insuficiência renal crônica, sofreu um ataque diante daquela que seria a sua obra prima, um tratado gramatical que explicava o mundo pelas regras da língua quando, pasmem, os cinco volumes saíram da gráfica. Sentença para nascer e para morrer por causa de dois pronomes mal colocados. Os enganos se transformando em verdade ou em sentença condenatória fazem da vida um suplício. Que podem causar apenas transtornos ou chegar ao extremo da fatalidade.

Pois a história que vou lhes contar me faz pensar que esses escritores geniais usam e abusam da imaginação criativa vinda diretamente da suas cabeças ou então associada a algum fato presenciado ou ouvido. Transformam-na em uma peça literária do mais puro prazer de ler, sem nenhum engano. É o caso aqui, do Monteiro Lobato.

Ouvi um repórter citar uma frase na rádio lembrando de sua terra natal e me remeteu à minha infância quando ia passear na roça. E me lembrei também do Maurício de Souza, o gênio dos quadrinhos infantis, com seu Chico Bento e as goiabas do Nhô Lau.

O Senhor Zé Alírio tinha um pomar não muito grande num canto do pasto, este sim, enorme, descampado que possuía muitas jabuticabeiras. Daquelas graúdas, negras da cor dos olhos e de encher os olhos de todas as cores de qualquer criança. E até adultos também. Bravo e de pouca conversa, achava que não precisava nem de porteira para o gado não fugir. Ele mesmo cuidava da vigília diária e mantinha apenas uma porteirinha de três ripas para entrada e saída dos caminhões de leite e sua camionete quando precisava ir à cidade. Quando estava na época da safra ele, que diziam também fabricar vinhos de jabuticaba, não dava e nem vendia para terceiros. Então, colocou a tabuleta com o aviso na entrada, que gerou a correria que fez atrás de mim mais a meninada que foi lá roubar umas frutas.
“Mês tano aberta ou fechada se entrá panha.”
Eu fui lá, metido a sabido e coloquei uma vírgula com um pedaço de carvão depois da palavra “entrá”. E falei para a turma que assim estava liberada a nossa entrada para apanhar umas jabuticabas por ordem do próprio dono. Ainda bem que ele resolveu antes ir buscar o cavalo. Foi nesse meio tempo que a gente se escafedeu e se livrou de uma surra.

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Esta é uma criação a partir da frase “Mês tano aberta ou fechada se entrá panha” (Mesmo estando aberta ou fechada a porteira, se entrar, apanha) que eu ouvi no programa matinal na rádio Bandnews proferida por um jornalista que afirmou tê-la visto escrita em uma porteira de fazenda em Ouro Fino - MG, sua cidade Natal.
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