sábado, 31 de outubro de 2009

SORTE

SORTE: Acidente da fortuna, casualidade, sina, felicidade, ventura.


Se me perguntarem como tudo começou eu não saberia explicar. Mas a gente costuma associar esse negócio de sorte, num primeiro estalo a dinheiro. Pode ser por causa da etimologia que a explica como sinônimo de fortuna; a associação ficou sendo direta. Mas a fortuna que é aquela contrária do infortúnio, que seria o azar. Se fico afirmando isso é por que não sei e desconfio de muita coisa tentando aprender. Vou questionando para ver se tenho a sorte de descobrir as coisas. Na ciência não é um pouco assim. De tanto a curiosidade ser posta a prova, o cara acaba encontrando algo. Pode ser até mesmo algo que ele não procurava. Mas se a coisa se transforma num achado, olha ele ficando famoso e ganhando um prêmio. E isso é sorte premiando pesquisa e determinação. O que eu não acredito é naquela história do cavalo arreado passar na porta da gente. Não para quem está lá dentro sentado. Aí, o cara nem vê e perde a garupa.


Quer ver? Eu conheci o Jean, ele tinha pouco mais de vinte e dois anos. Já tinha vivido segundo ele mesmo, o equivalente a uns quarenta. Coisas que só muito dinheiro consegue fazer: multiplicar o tempo. Acelerar e desacelerar de acordo com a vontade do possuidor. Ir até onde quiser; voltar, parar, fazer andar novamente e nisso tudo não se passarem sequer dois anos de uma existência. Jean era garimpeiro lá pelas bandas do Norte de Minas, onde se bamburra* ou se vive da sieba**. O meio termo é ir tentar outra sina em São Paulo. Umas minas pequenas, que mais parecem tocas de refúgio animal. Ele detonou uns quilos de explosivos e descobriu um veio de turmalinas azuis. Das que vi nas fotografias, tinha uma do tamanho de um gato grande e gordo. Da noite para o dia, virou uma espécie de imperador da região, reverenciado com uma veneração quase sagrada. Transformou-se num mito vivo, numa lenda materializada em riqueza de pedra. Se tivesse mais juízo financeiro teria construído um império particular. Súditos já tinha aos montes. Um séqüito também. O poder que o dinheiro traz é o seu exercício, não o seu estado permanente. Eu quero dizer que quem o possui em muita quantidade o exerce automaticamente se quiser, mas não o detém eternamente. Vale enquanto durar. Portanto isso pode ser considerado como sorte. Já o saber proporciona um poder mais duradouro, pois só onde não há saberes, é que o saber é uma forma de poder. A tal da capilaridade social, política e cultural.

Jean comprou carros, viajou pelo Brasil afora e foi até na Europa, fazendo-se senhor do tempo provisoriamente. Só não ouvi contar que conseguisse fazer chover no norte, sendo que o que mais quis, fez. E como em muitas histórias de garimpeiros, ele terminou com uma lojinha de pequenas jóias ( o pouquinho que guardou) e andando de carona levando gente que precisava fazer trabalhos acadêmicos com garimpeiros. Para quem não sabe, não se entra em garimpos clandestinos impunemente, nem desacompanhado. E contando histórias num saudosismo que servia de ânimo aos que lá tentavam alguma sorte e aos siebanos lá de fora da mina.


Ele que buscou a glória eterna esquecendo a efemeridade que a acompanha na falta de juízo e saber, pode se dar por sortudo se essa crônica ficar muito conhecida. Estará eternizado


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* Bamburrar: encontrar enorme quantidade de pedras preciosas numa garimpada.

* Sieba: restos de terra e minérios que são retirados e colocados de fora de uma mina (rejeito). Normalmente possuem pequenas quantidades de pedras preciosas desprezadas pelos garimpeiros que buscam a sorte grande.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

MENDIGOS

O casal fica se beijando de manhã na pracinha da avenida principal do bairro. Uma boa conversa, depois sai carregando as tralhas num carrinho de bebê. É engraçado como a felicidade incomoda. Ela não tem patrimônio à vista (nem a prazo) não tem casa com piscina nem carro na garagem. É a felicidade desprovida de qualquer finalidade que nosso espírito cristão ocidental está habituado a buscar. De ela vir rodeada de adornos e bens geradores de conforto. É o sorriso clean, o traje confortável, a boa educação à mesa e os laços de fraterna hipocrisia. Tudo junto nalgum lar. E só é considerada felicidade se assim for.


Pois esse casal mora em duas praças que há na mesma avenida. A do início e a do final. Quando se cansam de uma paisagem, eles se mudam para a outra Tem sempre algum morador que fica incomodado e pede a polícia para retirá-los das redondezas. Todos os dias a cerimônia se repete. Tomam seu café da manhã (um pão doado ontem, uma garrafa de água colhida na torneira de regar a grama e umas frutas do lixo dos sacolões). Mas o carinho também é permanente. Seu meio de transporte da “casa”, o carrinho de bebê que comporta algumas roupas e cobertas, além da cama, um monte de papelão cuidadosamente dobrado é tudo o que possuem além do cuidado e da atenção diária com o outro. Vejo-os todos os dias. Impassíveis, mas amorosos entre si. Talvez uma redoma anti redoma. A sociedade se protege deles e eles se protegem dela dando um baita sopro de felicidade. Pena que não são observados por esse ângulo interior. Por isso não causam nem inveja. Causam piedade. Aquela piedade que nos sai lá da culpa inexplicável pelas diferenças tão absurdamente gritantes. Da falta de lugar no bonde da oportunidade que não tem lugar para todos. Será que visão nossa é semelhante à do colonizador que considerava o nativo um ser vivo, porém desprovido de sentimentos que comovam? Ah, tá bom, então só precisam de alimentos, agasalhos e pronto.


Pra lá e pra cá, naquela felicidade inacreditável. Incômoda. Meu Deus, como pode uma gente assim ficar com essa cara satisfeita todos os dias? Sem ter casa, sem ter uma mesa para almoçar, sem ter banheiro? E o carinho é invejável. Beijam-se de manhã, sentam-se sob uma arvorezinha arredondada pela jardinagem da prefeitura, se escondem do sol ou da chuva e travam um longo diálogo, talvez delineando o planejamento de como conseguir uma comida naquele dia e onde vão dormir em caso de chuva. Nos olhares que trocam, falam de respeito e admiração de um pelo outro. É ou não é insulto à inalcançável felicidade?

Aqui, não! Vão ser felizes assim lá longe!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CONSUMISMO

Acho que encontrei um remédio para quem se sente incomodado com a chamada compulsão para o consumo. Mesmo para os que não têm dinheiro para ter a doença e insistem em adquiri-la. Síndromes de SPC e SERASA (doenças novas, segundo a última versão do Código Internacional de Doenças) são casos de hipocondria consumista. Portanto, muito cuidado com interrupções bruscas, pois causam sérias crises de abstinência.


Essa idéia me veio lá da página do Eduardo Costta (recantodasletras.uol.com.br), de uma bela crônica chamada A TELEVISÃO. Ele relata um assalto em uma residência, cujo único bem deixado para trás pelos ladrões foi uma televisão muito antiga. Mas uma televisão que passou por várias gerações e acabou construindo um laço emocional na família. Aquele rapaz (o Eduardo Costta) é de um talento imensurável.


Como uma mercadoria, um simples objeto passa a ter valor afetivo para a gente? Às vezes, quem nos deu é muito querido ou apreciado; pode ter sido recebido numa data muito especial; foi talvez comprado com muito esforço, uma poupança de anos a fio. Objetos que possuem uma história. Mas como isso não é do universo do consumismo desenfreado, vamos falar daquelas coisas que compramos, compramos, compramos estando ou não precisando. A idéia é que passemos a registrar as histórias que esse objeto cria para ver se adquire um valor estimativo , de forma que freie nosso impulso de jogá-lo fora assim que surge um mais moderno no mercado. Transfira para o objeto, a emoção que sentiu quando aconteceu algo do tipo que você conta para alguém, sem levar em conta o valor material do objeto que estava ali, junto com você.


Aquele carro cujo alarme disparou quando você estava no melhor da pegada, aquele celular que tantas alegrias e aborrecimentos lhe deu, como o primeiro emprego quando lhe chamaram e você estava lá na praia, tão necessitado... ou aquela demissão desrespeitosa por telefone. Já pensou na ligação que fez para o resgate que salvou alguma vida no trânsito, ou aquela denúncia anônima que evitou um assalto? E o velho computador (do ano passado)? Ah... esse deve ter tantas histórias para quem não é analista de sistemas, instrutor de informática ou hacker...Deixe que falem que é ultrapassado. A menos que na memória dele não tenha mesmo nada que valha a pena ser lembrado.


Registre tudo, fale com todos, fotografe, dê nomes, mas também não vamos exagerar e transformá-los em mercadorias humanizadas, a ponto de gerar crises de ciúmes se alguém ficar de olho.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ENCOSTO LITERÁRIO

Estou com um encosto literário. É um tormento. Não consigo me desligar dos pensamentos dissociados, permanentes, constantes, diuturnos, oníricos até. Quase me empurrando. Parece que a cabeça vai se fundir a qualquer momento como aquelas máquinas que, sobrecarregadas além da sua capacidade de botar para fora algum produto enquanto vão sendo alimentadas de matéria prima, começam a soltar uma fumacinha, exalar um cheiro de queimado e depois, bum!!! espirram peças pra todas as direções parecendo um vômito.


Nem a comida mais que tanto gosto de fazer tenho conseguido ser deixar queimar algo ao menos uma vez por dia. Vai aparecendo uma idéia, largo temporariamente o que estou fazendo (pensando ser rapidinho, apenas uma anotação de uma fantasia) e quando assusto, o cheiro de queimado me trai. Saem umas palavrinhas e vem a fome. E a necessidade de fazer outro prato ou ainda comprar pronto depende da hora ou da capacidade orgânica de aguentar esperar. Então, olho para a comida, olho para as palavras e jogo tudo fora. Ficaram ambas impróprias para degustação


Não sei mais o que fazer. Daqui a pouco viro um ermitão de cadeira. Eu, uma cadeira e o computador vamos ter que andar unidos até a quase eternidade, digo quase porque quando eu secar aqui sentado, claro que vão me enterrar sozinho e aproveitar a máquina, se ainda estiver boa para uso.

domingo, 25 de outubro de 2009

HÁ DEUSES?

A NOTICIA


NOIVOS DE CREDOS DIFERENTES PROMOVEM CERIMÔNIAS QUE CONTEMPLAM A FÉ DE AMBOS.


Casar com um parceiro de uma religião diferente já foi sinônimo de tabu ou problema familiar. Hoje em dia, de tão comuns, essas uniões inter-religiosas já tem um cerimonial próprio. Em igrejas como a anglicana, a católica apostólica brasileira e algumas evangélicas, é possível entrar vestida de noiva no tapete vermelho e receber bênçãos de duas religiões. Esse tipo de celebração se multiplicou nos últimos anos de acordo com organizadores de eventos. E pode combinar crenças como o hinduísmo e protestantismo ou as religiões católica e judaica num mesmo altar – nem que ele seja construído numa casa de festas...

Para Cada Crença Uma Regra.

“CATÓLICOS”: Casar fora da igreja ou com pessoa de outra religião só é possível com uma licença concedida por um bispo ou um vigário episcopal;


“JUDAÍSMO”: Reconhece apenas casamentos entre noivos que compartilhem a religião judaica;


“ESPÍRITAS”: para ele, o casamento não é considerado um rito religioso, mas familiar. Não se opõem à forma como os noivos escolhem celebra-lo;


“MUÇULMANOS”: Não admitem a celebração conjunta. Acreditam que os fiéis têm de escolher em que regras querem se casar para segui-las;


“EVANGÉLICOS”: Para os chamados congregacionais, o casamento inter-religioso pode ocorrer como exceção, se for autorizado pelo pastor;


“BUDISTAS”: Não se opõem à celebração conjunta. A base de sua filosofia é a compreensão;

“CANDOMBLÉ”: Os rituais realizados nos terreiros não costumam ser combinados com outras religiões.


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Fonte: Revista Istoé, nº 2080, pg 64/65

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A CRÔNICA


Minha mãe professava um sincretismo religioso considerável. Transitava por várias religiões e credos com uma desenvoltura fervorosa. Acho que ela procurava um lugar acolhedor que abraçasse seu espírito inquieto e sua irrefreada relutância contra dogmas e também contra preconceitos. Diziam que ela possuía uma mediunidade exacerbada e religiões costumam reivindicar para si a primazia da onipotência, da onipresença, da onisciência. Ela, entre a cruz e a espada, talvez ficasse andando pra lá e pra cá, a fim de encontrar o seu lugar espiritual e a paz com Deus. Quanto aos filhos, educou-nos todos na religião católica enquanto não tínhamos ainda capacidade de discernimento. Mandava com vigor que freqüentássemos uma missa semanal, fazia muitas orações em casa com a família reunida e, na medida em que íamos crescendo, não interferia mais se um ou outro mudasse seu rumo. Para ela, sua missão estava cumprida: havia ensinado o caminho a Deus. Os nove filhos manifestam religiosidade. Uns mais outros menos. Olhando o mundo, as pessoas, o mar, o céu, a lua, as estrelas, os bichos e os fenômenos naturais, me soa absurda a negação Mão Celestial que tenha propiciado tudo isso. Não fosse assim creio, nem teríamos ciência, cujas origens e progresso tem como fundo epistemológico a busca de verdades acerca de nosso estar aqui no mundo , de onde viemos, para onde vamos. O que fazemos é que é o grande nó, a grande desavença, os grandes desacordos. Eu vislumbro possibilidade de interpretações e nominações várias para a criação do mundo e sua “governança” espiritual. Mas ela está em um Deus apenas, tomando Deus como palavra universal.


Acredito que a intolerância vem desse conceito múltiplo que se confunde com a vontade do homem e se confunde ainda mais numa tentativa de mortais querendo sobrepor ao próprio Deus quando impõem aos seus semelhantes e seguidores um Criador como sendo o seu diferente e melhor do que o do outro. Esse é meu ponto sem pacificação com as igrejas espalhadas pelo mundo. Pois é a partir delas que se fomentam disputas teológicas que ultrapassam o conhecimento e a aproximação com Deus para ganhar condição de superioridade. Como se a divindade professada por uma igreja tivesse maior sacralidade do que de outra.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

BICICLETA

Antes de sonho da casa própria eu sonhava com bicicleta. Olhando hoje para trás acho que são as duas coisas que me inteirariam na vida como realização. A casa por poder colocar nela tudo que construí na vida que não tinha lugar; e tudo o que viesse a construir depois de minha independência que precisasse de um lugar. A certeza de que dali eu poderia ir e voltar para outras aventuras na vida. Era meu habeas corpus sem delito. Não sei se é eufemismo chamar também de cidadania financiada. Um lugar para morar que não fosse mais a casa de meus pais ou a incerta locação, que só nos diferencia de um morador de rua, pelo endereço fixo, porém provisório. Sempre provisório. E eu precisava de coisas definitivas. Tem umas coisas na vida que é bom que sejam definitivas. Para o desequilíbrio de vez em quando as emoções bastam.


Na infância, a bicicleta representava essa consciência que só agora remeto de volta para ela, longínqua, mas boa de se reviver. A bicicleta simbolizava um equilíbrio, uma liberdade esvoaçante, um poder que quando aprendemos a andar sozinhos ainda não temos noção exata dele.


Eu já desejei uma monareta, já quis uma de freio contra-pedal (máximo em eficiência nas derrapagens), conhecida como camelo. Mas não deu, quer dizer, não ganhei. Há pouco tempo, peguei uma que minha filha abandonou num canto (esta já moderna, de marchas e tudo), dei-lhe uma boa lavada e resolvi seguir os conselhos do médico para me exercitar. Minha aventura inicial foi reveladora. Acho que fiquei com trauma de infância. No primeiro dia, cai em uma boca de lobo sem tampa e estraguei a cara toda, esfolei os braços e joelhos e xinguei, xinguei meu pai muito. E não desisti. Comprei uma nova diante do estado de sucata em que a outra se transformou. A lagoa da Pampulha tem uma ciclovia em seu entorno e eu comecei a fazer o trajeto com a minha companheira nova. Na primeira semana, no finalzinho do percurso, me desequilibrei e caí a ponto de não aguentar me mover. O senhor de me acudiu, deu umas balançadas no meu braço, ajeitou meu ombro e disse que havia apenas uma luxação. Até agradeci achando que fosse um médico caminhando por ali. Não agüentei voltar montado para a casa e vim empurrando, sentindo uma dor que disputo com qualquer mulher que já teve parto normal qual dor é mais doída. Se bem que a do parto vale a pena. Cheguei ao portão e não tive forças para abri-lo. Minha mulher veio em meu socorro e viu meu ombro direito parecendo que tinha um mastro sob a camisa. Quando olhei no espelho é que descobri que o moço não era médico. Já no hospital foi diagnosticada a olho nu uma fratura exposta, agora sim por um médico do ombro, que me remendou com dois parafusos, 40 dias de tipóia, mais 90 dias sem fazer qualquer movimento brusco com o braço direito. Fiquei só sonhando com bicicleta, do lado esquerdo, uma vez que não podia dormir do outro lado. Diante dos apelos familiares para que abandonasse de vez essa malograda aventura, respondi igual a jogador de futebol contundido: “assim que o departamento médico me liberar eu e meus companheiros vamos dar tudo de si.” Tenho pedalado por ai em meu sonho de menino.

domingo, 18 de outubro de 2009

ENTREVISTA

ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

Foram mais de 80 horas de gravação. Demorou mais de dois meses a edição da entrevista. Ele falou coisas impublicáveis, cada expressão, cada palavra de baixo calão dirigida para o alto escalão... E ainda queria que tudo saísse do jeitinho que foi dito. O acordo não foi fácil. Em compensação nada foi fruto de ato secreto.

Ele não é famoso, mas vai que vira de uma hora para outra? Flash pra todo lado, microfones em profusão, aquela coletiva, ou aquela exclusiva. Nada disso comove nem demove o Arcanjo de seu anonimato feliz e provocador. Portanto resolveu dar essa entrevista apenas para seu pai. Para ficar em família, guardada junto com o álbum de fotografias para quando se for, servir de sobremesa filosófica para aqueles momentos de nostalgia da família reunida depois do almoço de um domingo qualquer.


- Arcanjo, meu filho, por que essa implicância com a modernidade?


- Tudo começou com os cachorros. A partir da observação da forma como as pessoas vêm tratando os cachorros ultimamente. Comecei a botar o pé atrás quando aquele ministro disse que o cachorro era um ser humano como qualquer outro. Esse pessoal que se declara defensor dos animais já pensou que, tirando os bichos de seu habitat, de seus costumes estão é lhes fazendo mal? Cachorro gosta de roupa desde quando? Gosta de dormir em cama, de escovar os dentes, de passar perfume? Ou isso é para agradar ao dono? Aquela pelagem que nasce com eles, é exatamente para se adaptarem às intempéries. Aí inventaram a tosa e as roupas para cães. Isso é defender animais? Ou satisfazer a vaidade insana dos sonhos? Quero dizer que adoro cachorros, viu?


- Como é essa sua mania de ver o outro lado das coisas?


- Qual deles? O obscuro ou o mal resolvido? O impublicável ou o indizível?

Há uma diferença entre o desconhecido e a desconfiança. O meu caso é o segundo. Filosofar a partir da desconfiança o resultado é mais confiável. Se bem que resultados em filosofia são sempre uma resposta só: o eterno retorno.


Por que essa filosofia das ruas?


- Olha, já teve a Velhinha de Taubaté (já ouviu falar?) Aquela que acreditava em todos os políticos. Já teve o deputado Justo Veríssimo (aquele que inspirou a expressão “Tô me lixando pro povo”). Já teve até o General, que ficara em coma seis anos e não acreditava nas notícias que recebia do Brasil quando recuperou a consciência ( aquele do “me tira o tubo”, lembra?). Já teve o bordão do Brasilino Roxo (“só se for na França”, declarando-se incrédulo com acontecimentos sinistros no Brasil). Então, o Arcanjo é uma soma disso tudo. Claro que com o ingrediente essencial das ruas, das casas e do mundo do trabalho, que é onde a virtualidade se manifesta de maneira palpável.


O que você acha da educação?


- Um grande negócio particular e um péssimo negócio para o público.


- E da violência?


- Um grande negócio para as empresas, um bom cabo eleitoral para o poder público, um horror para o público em poder da violência.


- E sobre o conhecimento, as informações que chegam aos borbotões para nós a todo instante?


- A tecnologia é uma coisa fantástica, olhando do alto da ambição humana de dominar a natureza e por conseqüência os semelhantes. Antes, para dominar um território novo era necessário deslocar milhares de homens num exército a pé, a cavalo, de navio e guerrear até escorrer a última gota de sangue do dominado. Aí, fomos evoluindo para as guerras aéreas, as bombas... Agora, basta um toque no teclado em qualquer computador potente de uma bolsa de valores poderosa e todo mundo sabe onde é o caminho do dinheiro. Todo mundo que eu digo é o mesmo todo mundo de sempre. Só vão deixando heranças para suas proles. O dinheiro é volátil mas o poder é concreto. Tem melhorado muito a humanidade em geral, desde que você esteja interessado em um negócio, em alguma “oportunidade imperdível” como dizem nos comerciais. Não há mais mistério em nada, nada mesmo.

Vou lhe dar o exemplo do desconhecido, do misterioso. Já transformaram até assombração e outras crenças no além em negócio rentável. Estão agora explorando o turismo em lugares que antes eram impenetráveis, cheios de mistérios que a nossa ignorância chamava de paranormais.. Aquele livro maravilhoso do Gilberto Freyre, “Assombrações do Recife Velho”, agora virou “case” para turismo na cidade. Ganham dinheiro com as histórias. Coitado do Freyre, deve estar revirando no túmulo! Pode ir lá para conferir, nem cemitério mete mais medo hoje em dia.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ADOLESCÊNCIA

O Peter mudou-se para a minha rua faz uns quatro anos. Bem em frente à minha casa. Menino tímido, eu o encontrava sempre que chagava de uma caminhada e ele estava na porta bem cedo esperando o ônibus escolar. Trocávamos um bom dia e cada um seguia sua rotina. Ficamos um bom tempo sem nos ver. Os horários perderam a coincidência e ele pouco sai de casa. Dia desses passei por um mancebo de quase um metro e oitenta na rua, que me cumprimentou com voz grave. Respondi pelas boas maneiras e fiquei intrigado: morador novo? Acompanhei sua trajetória e o vi entrar em casa. Me assustei com o menino. Era ele mesmo, o Peter, já um rapaz. Meu Deus!


Lembrei-me das transformações por que passei nessa época. Assim, do nada, começaram a botar pelos por todos os lados e cantos e interiores, a voz foi engrossando, o pé crescendo a ponto de dividir com meu pai sapatos e roupas. Uma colega me dizia que a sombra escura que apareceu sobre meu lábio superior era um “monogode”, tinha grande chance de virar bigode um dia. E a libido subindo e descendo, descendo e subindo, subindo e descendo, o dia inteiro. Até nos sonhos ela me encharcava (já não era mais xixi na cama). As brincadeiras começaram a perder a graça e o sonho de tornar um adulto foi me embalando naquela adolescência que não manda avisar. Tinha que me virar sozinho; ninguém falava nada, ninguém orientava que “daqui pra frente tudo vai ser diferente”.


Foi a hora que o mundo começou a ficar pequeno diante da minha prepotência de “sabe tudo”. Pai, mãe e adultos são os inimigos junto com o estado, todas as formas de governo, qualquer mecanismo de controle do ser que irrompe para o mundo querendo que este se curve diante de seu poder imaginário. É uma discordância generalizada, é uma afirmação de tudo que é negado e uma negação de todas as ordens estabelecidas a um só tempo. Nem bêbado tem mais razão que um adolescente. Qualquer concordância que assumia era por educação de berço. No fundo, quando não havia uma turma em volta, era até aceitável ouvir alguém mais velho. Fora isso, o negócio era virar o mundo de cabeça para baixo. Desde que ele não caísse do meu umbigo, o seu abrigo mais seguro e mais correto. Apareceram vários tipos de rebeldia. Umas sem causa outras sem argumento.


Para mim foi a fase mais maravilhosa e mais perigosa do ponto de vista da sobrevivência. É quando os medos todos se vão e a capacidade de heroísmos e covardias está mais aguçada. A mesma coragem capaz de fazer entrar numa fogueira para tirar alguém se queimando é a de ser o incendiário. Depende da formação anterior depende da influencia do meio. Não havia soluções caseiras, nem meios termos. Adolescente radical em tudo movido por um combustível chamado paixão. Até pelo ódio havia paixão.

Pensando bem, melhor não misturar as coisas. Não vou falar da responsabilidade que começou muito cedo com trabalho para garantir os estudos, da falta de tempo para levar às ultimas conseqüências a responsabilidade que não queria assumir mas que não restou opção, não vou falar da transição pouco amigável da infância para a adolescência e daí para a vida adulta senão eu acabo prejudicando o que falei da adolescência que passou como o Peter passou por mim na rua. Rápido demais e sem muito papo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BÊBADOS


MAIS UMA DO ARCANJO


Dizem os estudos que há bêbados no mundo desde que o homem precisou de algum auxílio à sua força natural para enfrentar o desconhecido, o aparentemente mais forte e a tristeza. A alegria é só uma desculpa de quem já não vive sem álcool.

O slogan “beba com moderação não apareceu com o automóvel nem com a recente lei seca. Ele vem do início do Cristianismo. Jesus tentou botar um freio no porre coletivo e não conseguiu completamente.


Diz o Câmara Cascudo1 que o homem bebe desde uns cinco mil anos. Cerveja e vinho vêm de gregos e romanos, muito antes de Cristo. Beber não foi invenção dos deuses mas bebedores sempre têm seus santinhos protetores. Se bem que com o preço atual, ninguém mais lembra de “jogar uma pro santo”, como se fazia com devoção antes. No anedotário de qualquer lugar, piadas de bêbados disputam pau a pau com as de sogras e outros personagens controversos.


Eu, agora na posição de atirador, sou catedrático no assunto. Listei tipos clássicos de bêbados de acordo com as observações por aí.:


“Bêbado Chatíssimo”. Fala com as mãos, tem que ficar pegando na gente; baba ou fala cuspindo nos outros. Repete mil vezes o que falou a cada cem vezes a mesma coisa;

“Bêbado Carente”. Está sempre se diminuindo diante da platéia. Se acha o último dos mortais, se acha uma porcaria, fala em morrer, ao mesmo tempo em que faz homéricas declarações de afeto por quem quer que seja e no fim manda todo mundo para pqp;


“Bêbado Raivoso”. É o bravo que não mete medo. Costuma se fazer assim para não ajudar na divisão da conta e ir embora mais cedo.


“Bêbado Amigo”. Quem já não ouviu a clássica tirada? “ Eu sou seu amigo pra c..., Você é meu irmão, entendeu? Meu irmão! Gosto do´cê demais! Dá abraço ou aperto de mão a cada minuto ou a cada vez que consegue levantar a cabeça e olhar para alguém ou algo que estiver à sua frente. Não se assuste se vir algum abraçado a um poste, um carro ou outro objeto. Na falta de gente, é costume haver essa confusão;


“Bêbado Absolutista”: Nunca lhe tire a razão. Sabe tudo, já viu tudo, já esteve em todos os lugares e não deixa os outros falarem. Entrecorta o assunto com aquela. “Não é nada disso” ou “eu sei” ou “você não sabe p... nenhuma”.


E não adianta se declarar abstêmio. Há álcool em alimentos industrializados, perfumes, desodorantes, cremes dentais e remédios. Os que não se sentirem enquadrados em nenhuma das categorias anteriores são bebedores sociais (ou podem se considerar, por enquanto).


ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

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1 – “De todos os vícios humanos o da bebida é o que se honra com mais extensa e erudita bibliografia... As campanhas antialcoólicas, visando evidenciar a degradação e bestialidade do embriagado não conseguem retirar-lhe uma aura de popularidade universal. Em qualquer paragem do mundo a estória de bêbado é invariavelmente hilariante.” (C. Cascudo, História da Alimentação no Brasil, pg, 20,30)

domingo, 11 de outubro de 2009

SATISFAÇÃO HUMANA

AVISO


Se você é dessas pessoas que andam com o espírito armado com armas de fogo pelas ventas, melhor não ler. O texto abaixo não tem embasamento técnico científico. Até foi tentada uma metodologia que conferisse uma lógica racional aos resultados, mas como não inventaram ainda uma ciência que dê jeito definitivo na angústia humana, na carência e no vazio existencial, vamos nos ajeitando com o que temos. Se nem o dinheiro conseguiu, não sei o que mais vamos ter pela frente em busca da tão decantada felicidade em prosa, verso e outros xingamentos impublicáveis. É uma brincadeira, portanto - o que não impede os leitores de proferirem todos os impropérios que quiserem contra o autor (só peço para preservarem a minha mãezinha, cuja memória guardo profundo respeito).

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Esse índice que acabo de criar não tem objetivo de concorrência. O IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU - pode continuar com sua falsa perspectiva de horizontalização da humanidade, onde tudo é medido tendo como referência termos econômicos. O IDH não leva em conta o desenvolvimento psíquico tão necessário para se atingir um degrauzinho na escala econômica. Se bastassem educação, saúde e medidas sanitárias, a Noruega, a Dinamarca e outros modelos de desenvolvimento, as pessoas de lá eram felizes para sempre.


Também pudera, cá debaixo da linha do equador, a coisa é tão precária que o acesso ao mínimo necessário para a sobrevivência já é considerado como uma ascensão social, uma mobilidade lenta e gradual de camada na pirâmide. E ficamos todos lutando feito loucos para ir da classe E para D, para C, para B, até chegar ao paraíso que é a classe A. O que jamais ocorrerá pois se assim for, seremos socialistas e não mais capitalistas. Já pensou? Quem vai trabalhar para quem se todo mundo for classe A? Portanto, é preciso viver. Enquanto isso, vou propondo o uso do INDICE DE SOFRIMENTO HUMANO, ISH, que, na verdade visa medir e dar indicadores aos portadores desse mal para que possam tomar medidas preventivas ou corretivas no seu dia a dia e pararem de se preocupar com coisas, digamos, menos importantes, do tipo: “que ódio, a manicure pintou meu pé de uma cor e a mão de outra ( minha mulher acaba de chegar bufando em casa). Então, amigos leitores que me acompanham com uma certa regularidade, continuem acompanhando com a mesma regularidade . Vou começar a publicar aqueles itens que provocam tanto sofrimento e dor, mas que se bem analisados, poderiam ser substituídos , por exemplo, por uma visita a uma creche ou a um asilo onde vivem precisando de voluntários e doação (não só material, mas também de generosidade humana).


Nas próximas estatísticas vou relatar casos como o da senhora furiosa porque sua cachorra queria colo a qualquer custo. Indo à padaria, passei por elas. Ela a colocou no chão e o bichinho ficou fazendo pirraça, estacado na rua querendo subir em suas pernas.

– Sofia, mamãe não pode agora! Estou tão cansada! Você precisa andar!

Não resistiu aos apelos da Sofia, emburrou a cara e a pegou novamente:

- Credo, Sofia, como você é mimada...

O ISH não possui escala de intensidade feito o IDH. “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.” (obrigado, Caetano).

Calcule a intensidade de seu próprio sofrimento desnecessário.


ARCANJO ISABELITO SALUSTIANO

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

VIDA DE PEÃO - O SUSTO

Bom Conselho é uma cidade do estado de Pernambuco, a mais de 2.000 km de distância da cidade onde o Osório fora trabalhar, Mariana. A obra ficava afastada da cidade. Uma fazenda onde se descobriu minério, fora desapropriada e estava se instalando ali uma empresa mineradora. Mais de três mil peões vindos de todos os cantos de Minas e do Brasil. Osório era um carpinteiro. Um artista com armações, formas e ferramentas nas mãos. Requisitado nessas firmas que correm o país construindo obras. A rotatividade de mão de obra nelas é imensa, mas há os casos dos peões seletos, que acompanham a firma onde quer que haja um serviço de importância. Há casos em que elas costumam pagar o trabalhador para ficar em casa, aguardando obra nova. Fazem isso para não perderem os mais qualificados e dedicados operários. Como o Brasil nunca viveu grandes períodos sem crises, deu-se do Osório ficar desempregado. Saíra de casa lá de Bom Conselho, dando a benção aos três filhos e um beijo na mulher dizendo que avisava onde estaria, que mandaria dinheiro para as necessidades tão logo arranjasse colocação. Havia três meses que Osório trabalhava duro de sete da manhã às sete da noite, de segunda a sábado. Tinham pressa os engenheiros comandantes do projeto. Prometeram entregar a infra-estrutura em um ano para que fosse instalada a usina que iria beneficiar o minério retirado da mina.


Numa segunda feira, no horário de almoço, o chefe do escritório mandou lhe chamar. Os comentários no meio dos colegas são imediatos: ou é demissão ou é aumento. Não fica se chamando peão no escritório da chefia por qualquer coisa. A tranqüilidade era geral no seu caso, funcionário exemplar, possivelmente ia ser promovido a mestre de carpintaria. Saiu com um papel nas mãos e um semblante preocupado. Entrou de imediato numa sala ao lado que era a do engenheiro responsável pela obra toda. O homem que fazia chover e trazia o sol, segundo jargão corrente. Em menos de cinco minutos deu-se um ruído de vozes alteradas no escritório e, no minuto seguinte, barulho de coisas sendo arremessadas por todos os lados, desenhos, pranchetas, material de escritório, cadeiras. A segurança fora acionada e foram contidos os ânimos. O engenheiro saiu lá de dentro correndo assustado, e o Osório foi levado para fora do canteiro de obras no carro da segurança e nunca mais foi visto. Todos se enganaram quanto a promoção ou o aumento de salário O papel que ele levava era uma carta. A sua mulher descobrira, depois de muito pesquisar nas empresas onde ele costumava pegar essas empreitadas o seu paradeiro lá nessa localidade. A carta dava-lhe 48 horas para voltar para casa sob pena de colocar outro homem no seu lugar, segundo disseram os homens do escritório que conversaram com ele. A bagunça toda foi por causa do seu pedido imediato de demissão recusado pelo engenheiro. Alegava ser bom empregado, não haver motivos para tal ato. Ao que o Osório resolveu fornecer, quebrando todo o escritório. Não ia deixar que ocupassem sua cama lá no Bom Conselho. Não se chegasse a tempo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

DICAS PARA EVITAR O ESTRESSE ANTECIPADO

UMA CRÔNICA DE HUMOR PARA O DIA-A-DIA.

Com as novas tecnologias, vêem também novas formas de antecipar as coisas, obter vantagens, benefícios e... estresse. Vantagens e benefícios como são poucos que oferecem e estresse tem de sobra, aqui vão algumas dicas para se evitar. Não desaparecendo os efeitos, recomendo chá de camomila quatro vezes ao dia.


- A receita federal tem oferecido, quase imediatamente após você ter entregado a declaração do imposto de renda, a oportunidade de saber se a sua foi processada através do seu site. Nunca faça isso. Uns três dias após a entrega, você já pode saber se está na malha fina. O pior é que se não pode saber quando vai receber a restituição. Vá somando pontos como sedativo se você não caiu em tentação.


- Achei uma resposta infalível para o telemarketing: Depois de umas oito negativas de adquirir um produto que queriam me empurrar, resolvi disfarçar-me de Ricardão (espero que ele não leia isso): Atendi e disse que o Sr José Cláudio havia falecido em um terrível desastre.

- Aquele do avião? Perguntou-me a moça.

- Não, mas foi bem trágico também. E o pior, o desgraçado deixou a viúva aqui cheia de dívidas. Eu achando que ia ficar no bem bom, vou ter que ralar para ajudá-la a pagar.

Ela pediu mil desculpas ofereceu suas condolências e nunca mais ligou. Creio, inclusive, que falou com outras empresas. Ninguém mais tem me ligado para oferecer o paraíso em suaves prestações.

(P.S.: contra o gerúndio nos atendimentos não tem remédio ainda)


- Para quem pensava que o rádio estava em desuso, obsoleto, experimente carregar na bolsa ou no bolso esses aparelhinhos de mp3,4,5... Não há nada melhor para filas intermináveis, ônibus, metrô e outras paradas indesejáveis. Mas, atenção: tem que ser rádio, não música gravada. É que entre uma musiquinha e outra, sempre tem uma notícia, uma agenda cultural, um caso inusitado que inspiram um poema, um causo, uma crônica, um pensamento criativo. Cuidado com os programas de curas e rádio polícia. O efeito é inverso.


- Em cidades medias e grandes, use o carro somente em casos fortuitos de força maior. Calma! O transporte público é uma porcaria, eu sei. Mas nada se compara ao trânsito de carros particulares. Nenhum inferno é mais quente. Em todo caso, qualquer dos meios de transporte que for usar, sempre saia de casa uma meia hora antes do habitual. Leve um biscoitinho ou uma maçã. A gente nunca sabe...


- Se você é usuário involuntário e necessitado do SUS, não precisa ler esse tópico. Se tiver um plano de saúde, sugira aos médicos (eu tenho feito isso) para pararem de colocar a revista Caras na sala de espera. Ou, no mínimo variar! Estou começando a desconfiar que os médicos é que gostam daquela porcaria. Como eles podem supor que todos os pacientes gostam de ficar vendo aquelas futilidades com calma e terem que esperar uma, duas horas para a consulta que havia sido agendada com uma semana de antecedência? E ainda por cima, revistas de seis meses, um ano atrás? Podia ser pelo menos Playboy e Cláudia. Têm menos fotos. A gente tem alguma coisa para ler e nem vê o tempo passar.

Em todos esses e demais casos, não faça cara feia ou de raiva como deve estar fazendo ao terminar essa leitura. Mantenha o bom humor sempre.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

AEDO CIBERNÉTICO* - MERCEDES SOSA


MERCEDES SOSA – LA NEGRA


SAUDADE ETERNA


GRACIAS A LA VIDA

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VOLVER A LOS 17

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* Na antiguidade, como a escrita era pouco desenvolvida, o AEDO cantava as histórias que iam passando de geração para geração, através da música. Depois, veio o seu assemelhado na idade média que era o trovador. Hoje, juntado tudo isso com a tecnologia, criei o AEDO CIBERNÉTICO.



domingo, 4 de outubro de 2009

VEJO VOCÊS LÁ

A NOTÍCIA

Uma bisavó do País de Gales comemorou seu 102º aniversário com uma volta de moto e um passeio em uma Ferrari.

Connie Brown, de Pembrokshire, foi surpreendida por amigos no dia de seu aniversário e levada para uma volta de moto pela cidade de Pembroke. Em seguida, embarcou em outro passeio, dessa vez a bordo de uma Ferrari.

Depois da volta de moto, ainda de jaqueta de couro e capacete, ela disse: "Todos deveriam experimentar. Foi um dia lindo, nunca vou esquecer". Em seguida, ao terminar o passeio na Ferrari, Connie afirmou que nunca havia sonhado "com nada parecido". "Não sei bem o que fazer para o próximo aniversário, mas me aguardem!”
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Fonte:http://www.new.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_21/2009/08/07

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A CRÔNICA

E lá estava eu a bordo dos meus 100 anos. Não existiam mais Ferraris e as motos haviam se transformado em algo estranho. Um veículo dobrável que a gente levava no bolso. Aquele pessoal que criou o desenho animado da Corrida Maluca era visionário. Como fazia o ajudante da Penélope Charmosa, era só apertar um botãozinho no embrulho e ele se transformava numa moto com tamanho regulável de acordo com as condições do trânsito aqui em baixo. Digo aqui em baixo por que lá em cima era uma outra situação, digna dos tempos dos Jetsons (alguém ai se lembra?). Os carros haviam se transformado em pequenas naves espaciais. O trânsito ganhou os céus e acabaram-se os congestionamentos.

Quem acabou sendo prejudicado por esse progresso admirável foram os escritores de ficção científica. A ficção havia acabado. Vinha gente de todas as partes do mundo. Da Lua, de Marte, acho que até de Mercúrio tinha gente. Depois que o homem descobriu atmosfera, água e minérios nesses lugares, a terra ficou habitável de novo, com espaço de sobra para todos. Agora íamos demorar milhares de anos para destruir tanta natureza, ainda em estado bruto. As consciências haviam se elevado bastante depois dos sustos dos cataclismos que abalaram a terra nos últimos tempos. A devastação chegara ao limite e não fossem estas descobertas espaciais, não haveria a minha festa de aniversário. Também creio que houve um efeito psicológico nessas aventuras. Acho que o homem indo tão longe tenha se sentido mais próximo de Deus. Será? A população não crescia tanto mais como antigamente e a velhice deixou de ser um estorvo. A medicina finalmente aprendera a conservar os corpos em um estado de relativa juventude. A minha única tristeza nessa festa toda era ainda com relação às vaidades. Isso continuava a prejudicar a dedicação ao amor entre os seres. Toda a liberdade, todo avanço, toda aquela história de que o mundo estava em nossas mãos tinha acontecido mas o amor ainda não havia libertado o homem de suas ambições mesquinhas, o que lhe impedia de se tornar tão grande como o universo que conquistara. Uma pena!

Os que aqui ficaram eram pessoas que não possuíam recursos para adquirir uma propriedade em outros planetas ou por puro patriotismo. Só os muito ricos foram para lá. Havia aqueles que mantinham casas no espaço sideral apenas para curtir férias longe do barulho e da poluição sonora que permanecia. As comidas e bebidas eram todas servidas por máquinas maravilhosas e instantâneas. A um simples toque no item escolhido em seus cardápios frontais saía quente ou frio, o pedido. Temos tempo ainda de fazer isso valer a pena. Isso que eu digo não é somente a longevidade da matéria. É da esperança de uma comemoração na torre de uma nova gênesis. Com línguas diferentes mas com sentimentos irmanados. Daqui a 53 anos, espero vocês lá.

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